segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Rio

Deixa o rio correr para o mar, sabe-se lá por que sítios nos leva, para que portos nos transporta...

Portos-seguros...

Portos-perigosos...

Portos-escaldantes...

Portos-suaves...

Portos de passagem...

O importante é fazer a viagem.
Senti-la...
Vive-la...

Sentir cada pedra do leito, apreciar cada paisagem, sentir cada aroma, absorver cada cor. Tocar em cada forma, agarrar as correntes, descer os rápidos, flutuar em cada praia. Reflectir cada raio de sol, suspirar por todas as gotas evaporadas e por todas que a chuva irá trazer...

Demonstrar a nossa força, a nossa forma em cada pedaço que atravessamos...

É um percurso longo, desgastante e muitas vezes mutilador, mas por outro lado, é ele que define a nossa personalidade, a nossa essência.
Traçamos a nossa própria superfície, a nossa base de sustentação e por cada passagem, por cada paragem enchemos o nosso coração. Transportamos memórias, decalcamos os sentimentos vezes sem conta, trilhamos o nosso percurso. Cruzamos-nos com novas formas de vida, espreitamos novas texturas, fixamos novas metas. Abrimos mundos secretos e esperamos encontrar terra firme quando ao longe se avista uma terrível tempestade que afinal não é mais que um novo impulso na corrente da vida... uma tatuagem de um momento vivido com sofrimento mas com muita dignidade e esperança. Um retrato de nós mesmos, das nossas fraquezas, das nossas fantasias, dos nossos sonhos. Uma imagem que se crava para além da epiderme e da derme, que chega bem fundo no peito. Uma imagem que não se apaga, que ninguém apaga. Imagem que não desaparece, apenas se transforma, se deforma, se contrai ou expande... A imagem da nossa existência reflectida nas águas cristalinas do rio.

É o nosso rosto, o nosso corpo, a nossa alma, e por fim percebo!! Este rio sou eu, és tu que te cruzas com ele, ou outro alguém com quem ainda me irei cruzar...

Eu corro para encontrar o mar, a calma a paz de espírito, a segurança, a felicidade. Para apanhar novas correntes. Para percorrer novas rotas. Viajar. Sorrir. Descobrir. Corro por mim e para mim. Corro para viver e vivi para correr.

Por isso, sim por tudo isto, deixa o rio correr para o mar, sabe-se lá por que sítios nos leva, para que portos nos transporta...

1 comentário:

Anónimo disse...

não deixa de ser verdade que na nossa vida aportamos, se assim posso dizer, várias vezes. nem sempre estes portos são agradáveis mas com toda a certeza são aqueles que abastecem a nossa vida e temos que ser gratos por isso.
:*)